InícioÚltimas NotíciasO papel do Direito...

O papel do Direito Constitucional na defesa de direitos fundamentais em tempos de mudanças legislativas

O Brasil vive um período de intensa movimentação legislativa e reformas que tocam diretamente o núcleo de garantias previstas na Constituição Federal.

Desde sua promulgação, em 1988, o texto constitucional já foi alterado por 128 emendas, transformando substancialmente áreas sensíveis como previdência social, regime tributário, orçamento público e direitos sociais. Em um país que abriga o maior contingente de advogados do mundo — cerca de 1,3 milhão de profissionais, segundo dados da OAB, o que equivale a um advogado para cada 164 habitantes —, compreender e aplicar corretamente os fundamentos constitucionais não é apenas uma virtude acadêmica, mas um requisito para uma atuação jurídica sólida e estratégica.

A Constituição não é um documento estático. Ao contrário, é constantemente reinterpretada pelo Supremo Tribunal Federal e pelos tribunais superiores à medida que novas demandas sociais e econômicas surgem. Essa característica dinâmica exige que advogados, especialmente aqueles que lidam com questões de alta complexidade, dominem não só o texto, mas também a lógica e os princípios que o sustentam. As mudanças legislativas recentes, como as reformas previdenciária e trabalhista, exemplificam como ajustes infraconstitucionais podem afetar direitos fundamentais. Cabe, portanto, ao advogado avaliar, à luz da Constituição, se tais mudanças respeitam limites como o princípio da dignidade da pessoa humana, o direito adquirido e o ato jurídico perfeito.

Essa função de guardião dos direitos fundamentais não se limita a grandes causas de repercussão nacional. Ela se materializa diariamente em processos de todas as áreas — do inventário que envolve bens de alto valor à aposentadoria contestada administrativamente. Em ambos os casos, a leitura constitucional pode alterar o desfecho. É nesse ponto que a formação avançada desempenha um papel determinante. O manejo seguro de ações como a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) ou a Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO), que possuem efeitos erga omnes e vinculantes, demanda não apenas experiência prática, mas profundo conhecimento técnico.

Segundo levantamento do Conselho Nacional de Justiça, o Brasil encerrou 2023 com cerca de 84 milhões de processos em tramitação. Esse acervo gigantesco pressiona o Judiciário e torna ainda mais importante a atuação de advogados que sejam capazes de formular teses bem fundamentadas, aptas a reduzir litigiosidade desnecessária e aumentar a efetividade das demandas. Em contrapartida, pesquisas revelam que apenas 35,1% dos brasileiros afirmam ter conhecimento razoável ou bom da Constituição, enquanto 7,8% dizem não conhecê-la em absoluto. Essa lacuna amplia a responsabilidade do operador do Direito como intérprete e aplicador dos preceitos constitucionais.

Para a advogada e doutora em Direito Constitucional Ivanir Alves Dias Parizotto, que soma quase duas décadas de experiência e mais de 15 mil processos conduzidos, dominar a Constituição é imprescindível para garantir a segurança jurídica e a proteção real dos direitos dos clientes. “Toda atuação jurídica, direta ou indiretamente, dialoga com a Constituição. É ela que confere legitimidade à norma e estabelece os limites do poder estatal frente ao cidadão. Sem essa base, a defesa perde força e o risco de decisões desfavoráveis aumenta consideravelmente”, afirma.

Ivanir reforça que o estudo e a especialização não são apenas incrementos curriculares, mas ferramentas práticas para lidar com a volatilidade normativa e as constantes mudanças interpretativas dos tribunais. “A cada reforma ou alteração legislativa, precisamos revisitar os princípios constitucionais para verificar se o novo texto se harmoniza com eles. É um trabalho constante de interpretação, que exige técnica, sensibilidade e visão crítica”, completa.

Nesse ambiente, o Direito Constitucional se apresenta como o eixo central de qualquer estratégia jurídica consistente. É nele que se encontram os fundamentos para contestar excessos legislativos, defender direitos ameaçados e assegurar que, em tempos de instabilidade normativa, a Constituição continue sendo o farol que orienta o Estado e protege o cidadão. Para os juristas que desejam não apenas sobreviver, mas se destacar, o domínio dessa disciplina é, mais do que nunca, uma condição essencial de excelência profissional.

Popular

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Leia mais