Mas não um filmeco qualquer, não senhor. Com “A Grande Viagem da Sua Vida” ele esboçou um épico edificante, cheio de mensagens sobre a vida, o universo e a chance de pessoas comuns expiarem seus pecados. São lições que fazem seus protagonistas reviverem momentos importantes de seu passado para, juntos, tentar traçar algum caminho para o futuro. Tudo sob o guarda-chuva infinito do “realismo fantástico” (eu tenho senioridade para usar o termo, me deixa).

Colin Farrell é David, solteiro, que ainda dá satisfação aos pais sobre suas idas e vindas e pega a estrada para o casamento de um amigo (supomos, já que os coadjuvantes aqui são irrelevantes). Na festa, conhece Sarah (Margot Robbie), outra alma deslocada. O flerte é inevitável, não dá em nada, mas a história parecia se encerrar ali. No dia seguinte, contudo, o carro dela não dá partida e o GPS do dele sugere (!) uma carona. Até aí, ok.
O que acontece em seguida é a tal jornada pelo tempo e espaço. O GPS, muito engraçadinho e cheio de personalidade, os direciona a lugares aleatórios em que eles encontram diversas portas. Ao cruzar, ambos são levados a pontos de relevância no passado de cada um e ganham, assim, outra perspectiva sobre sua própria vida. No processo, conhecem melhor um ao outro e, vá lá, se apaixonam. Na teoria tudo funciona.
O fluxo narrativo aqui é uma festa de alucinógenos. Ele visita um farol em que a vista “o faz pensar na existência”, volta a seu colégio de adolescência (olha o roteirista revendo o próprio passado) e tem um encontro decisivo com seu pai. Já ela vai ao hospital em que sua mãe morreu, ao museu que as duas visitavam juntas (escondidas à noite, vai entender) e, finalmente, se vê como adolescente em uma conversa franca com sua mãe. As histórias de David e Sarah se cruzam em um restaurante em que, cada um encarando seu próprio passado, mostram sua incapacidade em criar qualquer conexão amorosa.

Fonte UOL