Portugal foi apontado como exemplo internacional na luta contra a obesidade. As Nações Unidas, ONU e a Organização Mundial da Saúde, OMS, distinguiram o país pelas políticas públicas que, nos últimos anos, conseguiram reduzir significativamente o consumo de açúcar e criar ambientes alimentares mais saudáveis.
Portugal recebeu o 2025 Task Force Award, atribuído pelo Departamento da ONU para a Prevenção e Controlo das Doenças não Transmissíveis em Nova Iorque, num evento à margem da 80.ª Assembleia Geral das Nações Unidas. O prémio distingue países e organizações que se destacaram na prevenção da obesidade e na promoção de políticas de alimentação saudável.
“Sentimento de profundo reconhecimento”
Em entrevista à ONU News, de Lisboa, a diretora-geral da Saúde de Portugal, Rita Sá Machado, considera que este reconhecimento confirma a consistência das políticas de promoção da alimentação saudável e reforça a importância de manter o foco.
“Temos dado algum enfoque ainda mais relevante em programas nesta área e, por isso, para nós foi uma enorme alegria e um sentimento de profundo reconhecimento daquilo que é o trabalho da Direção-Geral da Saúde.”
Mais de metade da população tem excesso de peso
Em Portugal, a obesidade afeta quase 16% da população adulta e cerca de 37% tem excesso de peso, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística, com consequências diretas na incidência de doenças crónicas, como a diabetes e as cardiovasculares, que continuam entre as principais causas de mortalidade do país.
Rita Sá Machado recorda que a Direção-Geral da Saúde tem trabalhado, de forma consistente, para inverter esta tendência, apostando em políticas públicas que promovem melhores escolhas alimentares e uma maior literacia em saúde.
“Nós temos uma elevada prevalência de obesidade em Portugal e é sem dúvida alguma um dos determinantes que tem maior impacto, não só na qualidade de vida das pessoas, mas também é um determinante de outras doenças que são muito prevalentes em Portugal”, salientou em entrevista à ONU News a partir de Lisboa.
O reconhecimento internacional, acrescenta, vem reforçar a importância de dar continuidade a este trabalho e de investir em novas estratégias. Entre as prioridades futuras está a melhoria da resposta dos serviços de saúde às pessoas com obesidade, o reforço das políticas de prevenção consideradas mais eficazes e a continuação do esforço na reformulação dos alimentos disponíveis no mercado.
Secretária de Estado da Saúde Ana Povo recebeu o galardão à margem da 80.ª Assembleia Geral das Nações Unidas
Políticas que mudaram o ambiente alimentar
A diretora do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, Maria João Gregório, lembra que Portugal foi implementando, nas últimas décadas, medidas concretas recomendadas pela OMS para travar o aumento da obesidade, sobretudo infantil.
Essas políticas centraram-se em modificar o ambiente alimentar, tornando as opções saudáveis mais acessíveis. Entre as medidas mais emblemáticas estão o imposto sobre as bebidas açucaradas, o acordo com a indústria alimentar para reduzir sal e açúcar e a regulação da publicidade dirigida a crianças.
Corte de 40% no açúcar e 15% no sal
Desde 2017, o imposto especial de consumo sobre as bebidas açucaradas levou a uma redução de cerca de 40% das bebidas com maior teor de açúcar. Paralelamente, os acordos com a indústria permitiram uma diminuição média de 15% no teor de sal e 21% no teor de açúcar em produtos como cereais de pequeno-almoço, iogurtes, leites aromatizados, néctares e refrigerantes.
Quanto à lei que restringe a publicidade alimentar dirigida a menores, a responsável explica que a avaliação feita em 2023 revelou uma taxa de cumprimento elevada, embora persistam desafios no digital, onde se concentram 80% das infrações identificadas.
Em entrevista à ONU News, a diretora do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, Maria João Gregório, assinala que Portugal se destacou no contexto europeu.
“Portugal foi de facto um dos primeiros países na região europeia da Organização Mundial da Saúde a conseguir legislar esta área, e temos sido considerados um país exemplo”.
A distinção da ONU e da OMS reconhece, assim, não apenas os resultados alcançados, mas também o papel de Portugal como referência internacional na prevenção da obesidade e na promoção de ambientes alimentares mais saudáveis.
*Sara de Melo Rocha é correspondente da ONU News em Lisboa.
Fonte ONU
